Neste artigo compartilho estudos, pesquisas e experiências que me levaram a acreditar que a maior parte dos desencontros amorosos ocorre em função da fragilidade dos relacionamentos conjugais e não pela falta de amor.
Quando casei, aos 21 anos de idade, se tivesse recebido informações sobre o significado e responsabilidade de assumir a parte que nos cabe nos relacionamentos a dois, poderia ter compreendido que, mais do que amor, seriam necessários outros elementos valiosos à construção e manutenção de uma relação saudável. Também teria sido de grande valia entender a dimensão dessa jornada para a formação do lar onde abrigaria minha família. Mas, como para a maioria dos casais essas dicas não são dadas, tive que aprender ao longo do caminho, aos trancos e barrancos… Até chegar o dia de parar para repensar a relação, onde é preciso fazer um balanço sobre os pontos fortes e fracos e, até mesmo, se vale à pena continuar. “Êta diazinho” difícil, porque quando a gente chega a esse ponto, o coração já está apertado de mágoas, dúvidas e uma terrível incerteza sobre o futuro.
Foi em um momento de vida como esse, já com mais de 25 anos de casada, que decidi entender melhor a essência dos relacionamentos conjugais e, assim, poder avaliar os acertos e erros, especialmente o que poderia fazer para reeditar a relação. Então, resolvi levar a sério os estudos e pesquisas sobre esse assunto e o livro Arquitetura do Amor está para nascer como o registro das aprendizagens e melhorias que procuro fazer e que compartilho com você a partir de agora.
O resultado dessa experiência pode ser considerado um grande alerta: Atenção!!! O AMOR é o terreno fértil, mas precisa da construção e manutenção da RELAÇÃO para sobreviver e abrigar o LAR onde a família vai nascer e viver. Pode haver AMOR, mas sem uma RELAÇÃO SAUDÁVEL, construída a partir de base sólida, pilares de sustentação e um telhado que abrigue os melhores valores, o amor terá poucas chances de sobreviver.
Essa constatação está fundamentada em um conjunto de fatores:
– Minha formação como Psicóloga que me proporciona estudar e pesquisar o assunto com um pouco mais de profundidade;
– Os atendimentos a casais em crise onde os maiores problemas encontravam-se mais na falta de COMUNICAÇÃO (base da relação) do que na falta de AMOR.
– Minha trajetória conjugal de mais de 30 anos;
Hoje tenho a convicção de que contar com um plano de viagem é mais do que uma vantagem, é definitivo para evitar entrar numa aventura a dois. Como disse o sábio navegador Amir Klink: “O que diferencia uma viagem de uma aventura é que uma viagem parte de um objetivo preciso e conta com um planejamento detalhado, e uma aventura a gente vai à deriva. Já vivi aventuras, mas fazer a volta ao mundo requer mais do que vontade, requer iniciativa e o exercício bonito de construir um pedacinho do futuro”.
Mesmo com um plano de viagem não temos a garantia de que a travessia será tranquila, mas sem ele, estamos muito mais vulneráveis às turbulências e com muito mais chances de naufragar.
O artigo Arquitetura do Amor não tem a pretensão de ser um guia, apenas uma fonte de lições e emoções sobre a trajetória conjugal com dicas para aqueles que buscam assumir a parte do destino que lhes cabe na jornada a dois.
A Arte do Relacionamento – Como está o seu?
O relacionamento é uma arte que se expressa através de uma combinação única de ingredientes, cuja essência é o amor.
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Dr. Dean Ornish, renomado cardiologista americano, em seu livro “Amor e Sobrevivência” observa que: “vários são os caminhos que nos levam ao amor. A jornada para colocar mais amor a sua vida é talvez a mais pessoal e mais significativa das aventuras. Perseguir seu próprio caminho é mais valioso do que seguir os passos dos outros. Se você assume o compromisso da jornada do coração, forças entrarão em movimento que são uma parte do mistério da vida”. |
Convido você a refletir sobre “essas forças do coração” que escolhi chamar de Arquitetura do Amor – uma estrutura poderosa, com sua própria combinação e, que impacta em diferentes dimensões de realização humana – pessoal, familiar, social e profissional.
No início dessa jornada, proponho um exercício de reflexão sobre alguns dos indicadores que podem orientar e revelar como está seu relacionamento amoroso atualmente:
As raízes do sentimento de insatisfação ou satisfação plena se encontra no mais intimo de nossos corações a partir de uma especial combinação de fatores que, conjugados, refletem nosso estado de prazer atual.
Esse pode ser um momento importante da jornada. Um momento de tomar consciência dos seus sentimentos atuais, e então, decidir incrementar ou mudar a direção e o controle dessa área, aqui e agora. O que você quer dos seus próximos capítulos?
Os benefícios por assumir consciente e estrategicamente essa área da vida vão além dos maravilhosos momentos românticos que somos capazes de protagonizar e reeditar.
Dr. Ornish, nos ensina que “o padrão no modo como nos relacionamos com os outros e com nós mesmos é um importante determinante da saúde e da doença – até mesmo da vida e da morte. Quando nos sentimos amados, bem cuidados, apoiados e íntimos, temos maior probabilidade de ser feliz e de ter saúde. É menor o risco de adoecer e, se adoecer, é maior as chances de sobreviver. Portanto, qualquer coisa que contribui para o amor e a intimidade, a conexão com os outros, é curativa.”
O próprio Dr. Ornish confessa: “sei o quanto também foi difícil para eu realizar mudanças fundamentais nos meus padrões de relacionamento. Quando comecei a compreender o poder curativo do amor e dos relacionamentos, comecei a dedicar mais tempo e mais energia para trabalhar as minhas feridas e a ajudar os pacientes que me procuravam a fazer o mesmo. Portanto, o amor promove a sobrevivência. Dar e receber carinho são atos afirmativos da vida – quando começamos a nos sentir responsáveis por nossas ações e deixamos de culpar a outra pessoa, o relacionamento sofre uma transformação. Ou cresce e se torna mais autêntico e íntimo, ou uma pessoa ou ambas resolvem terminar um relacionamento destrutivo, para procurar outro mais compatível com maior potencial para a intimidade”.
Para Martin Sellgman, PhD, professor de Psicologia do programa Fox Leadership na Universidade da Pensilvânia, em seu livro “Felicidade Autêntica”: “Amor significa muito mais do que dar afeto em troca daquilo que se espera receber. Casais satisfeitos vêem virtudes nos parceiros, se dão atenção e costumam ser otimistas. O amor faz uma pessoa melhor”.
Segundo John Gottman, professor da Universidade de Washington, em seu “laboratório do amor”, o potencial para divórcio ou para casais cujo casamento ainda vai melhorar ao longo do tempo pode ser previsto com 90% de acerto. Gottman propoe aspectos a serem avaliados e que se relacionam aos possíveis candidatos ao divórcio. Sugiro que aproveite a oportunidade para avaliar sua condição atual:
( ) Discussão áspera quando há discordância;
( ) Em vez de queixas, críticas ao(à) parceiro(a);
( ) Demonstrações de menosprezo;
( ) Atitude defenciva imediata;
( ) Não valorização (particularmente sabotagem);
( ) Linguagem corporal negativa.
Casais com relacionamento de qualidade apresentam comportamentos específicos, como dedicar 5 horas semanais ao convívio através de:
( ) Despedidas – toda manhã costumam comentar o que vão fazer durante o dia;
( ) Regresso – têm conversa tranquila;
( ) Afeto – tocar, agarrar, pegar e beijar – tudo com ternura;
( ) Uma vez por semana – somente os dois, numa atmosfera relaxante, renovando o amor;
( ) Admiração e apreciação – todo dia demonstram afeto e apreciação.
Projeto, Construção, Manutenção e Renovação
Projetar, construir, manter ou renovar relações requer investimento pessoal. Através do amor edificamos nossas relações, mas é preciso cultivar esse amor e cuidar com muita atenção de toda a estrutura que compõe sua arquitetura, cujas partes exigem ações específicas e compromentimento profundo.
No quadro abaixo, você encontra uma analogia que podemos fazer para compreender melhor a “Arquitetura do Amor”, a partir de suas estruturas que fundamentam e sustentam o relacionamento amoroso saudável.
As etapas 1, 2, 3 e 4 referem-se ao momento em que você se encontra em seu relacionamento atual:
Etapa 1 – Arquitetura e Construção – aberto a relacionamentos ou no início de um romance.
Nessa fase, costumamos não ver a pessoa amada como realmente é, porque idealizamos uma imagem e nos apaixonamos por ela, projetando-a no outro. Quando chagamos a conhecê-la melhor, ficamos algumas vezes desiludidos – literalmente porque ela não corresponde à nossa ilusão do que queríamos que fosse;
Etapa 2 – Manutenção – fase em que já nos encontramos num relacionamento estável e que requer atenção e cuidado para evitar as armadilhas da rotina. É um período também importante, que sugere assumir a correção de pequenos desencontros com atenção especial à comunicação, para evitar a etapa 3.
Etapa 3 – Reforma – refere-se a uma fase em que as crises necessitam ser encaradas de frente e as novas regras, reeditadas. Essa etapa pode e deve ser evitada, especialmente quando se trabalha preventivamente com a “Arquitetura do Amor”, em cada uma de suas estruturas;
Etapa 4 – Reconstrução ou Demolição – quando cada uma das 10 estruturas estão vulneráveis, é hora de tomar uma decisão sobre a direção a dar nesse relacionamento – é hora de reconstruir ou partir para um novo relacionamento?
O momento em que se encontra em seu relacionamento amoroso pode ser o ponto de partida para se tomar consciência e assumir o comando – revendo objetivos e estratégias. Nesse momento, é fundamental perceber a dinâmica do relacionamento em que se encontra e partir para os indicadores de sucesso de relacionamentos saudáveis e, então, assumir sua parcela de responsabilidade e a parte que lhe cabe nessa jornada.
Vamos às variáveis ou estruturas básicas desse projeto:
Terreno = Amor – terreno fértil para se construir uma relação. É o ponto de partida, o lugar para começar se você quiser construir, manter e reeditar relacionamentos de qualidade e duradouros.
Base de Sustentação = Comunicação – a base de sustentação, o alicerce onde se constrói a relação. Investir nesse fundamento é um dos passos mais importantes do processo. Afirmo isso porque já atendi diferentes casais em fase de reconciliação, e restaurar a comunicação era um dos maiores desafios. Identificar e reduzir mensagens negativas como interrupções, acusações, queixas mútuas e fixação no passado, substituindo-as por pedidos positivos de mudança de comportamento como, por exemplo: “eu gostaria muito que você preparasse o orçamento como nós combinamos no mês passado”, contribui de forma definitiva para a saúde do casal e a sustentação das outras estruturas.
Pilar 1 = Interesses comuns – o primeiro pilar de sustentação de uma relação amorosa diz respeito aos interesses comuns que o casal vivencia como, por exemplo, atividades de lazer compartilhadas. Casais infelizes geralmente evitam passar muito tempo juntos, prevendo que esses momentos levarão a interações desagradáveis. Portanto, pensar em atividades que os dois apreciam e organizar melhor o tempo que dedicam a esses momentos, é um dos pré-requisitos para a boa relação.
Pilar 2 = Resolução de problemas – o segundo pilar de sustentação do relacionamento refere-se às habilidades de resolução de problemas. Esse pilar exige um exercício cuidadoso e produtivo nos momentos mais críticos da relação, onde as adversidades se apresentam para minar a relação. Quando os parceiros concordam em focar na resolução de um problema (evitando a armadilha emocional de procurar girar em torno das dificuldades, dissecando suas partes e procurando culpados), podem seguir alguns passos como:
1) Identifiquem o problema e definam qual a meta a ser atingida pelo casal;
2) Gerem alternativas de soluções;
3) Avaliem as vantagens e desvantagens de cada opção;
4) Decidam qual a melhor alternativa;
5) Façam acontecer – o que tem que ser feito para atingir a meta estabelecida.
Pilar 3 = Vida afetivo/sexual – o terceiro pilar de sustentação se encontra na área afetivo-sexual e podemos aprender com Dr. Alessandro Loiola, que sugere 10 dicas práticas de como incrementar a vida sexual:
1) Conheça seu corpo – Conversar francamente sobre os gostos de cada um e procurar contornar as próprias limitações com criatividade.
2) Fantasie! – A imaginação é um dos mais potentes afrodisíacos que se conhece.
3) Abuse das Preliminares – Preliminares incluem mais do que mão naquilo e aquilo na mão, abrangem elogios, sair para jantar, tomar banho juntos, fazer massagens, ouvir música, dançar. Estas atividades criam clima favorável para o casal, aumentando o nível de excitação.
4) Relaxe – Colocar música suave, trancar a porta para evitar sustos, deixar de lado as contas, a lista de tarefas para o dia seguinte, o quarto que está muito claro ou muito escuro, etc. Concentrar-se apenas no prazer que está sentindo, é especialmente importante para mulheres na menopausa, que podem apresentar dificuldade para chegar ao orgasmo.
5) Mude hábitos – Deixar de lado alguns vícios de comportamento e aproveitar tudo aquilo que a sua moral puder perdoar. As relações pela manhã também podem ser especialmente úteis para homens a partir da meia-idade, pois a ereção costuma ser mais fácil nesse período.
6) Pratique Exercícios Regularmente – Pessoas que praticam regularmente atividade física possuem mais disposição para o sexo. Uma caminhada de 30 minutos por dia, pelo menos 4 dias na semana, já é um bom começo.
7) Leve uma Dieta Saudável – Alimentação rica em gorduras e calorias, e pobre em vitaminas é um veneno para o desejo sexual. A dica é consumir frutas, legumes e vegetais à vontade e tomar uma quantidade adequada de água durante o dia.
8) Mantenha Tudo Sob Controle – A falta de controle da pressão, do diabetes, da gota, da artrite, do excesso de peso, tudo isso diminui o desejo e a potência sexual. Para que a sexualidade aflore sem amarras, é preciso que você mantenha a saúde sob controle.
9) Atenção com Remédios – Infelizmente, alguns remédios utilizados no tratamento de doenças crônicas como diabetes e pressão alta podem diminuir o desejo sexual. O melhor é informar-se com seu médico.
10) Use Suplementos – Mais de 80% dos casos de disfunção sexual estão relacionados a problemas orgânicos que podem ser tratados. Você deve procurar seu médico e perguntar se pode fazer uso de remédios e suplementos para melhorar sua sexualidade.
Pilar 4 = Planos para o futuro – o quarto pilar de sustentação é a habilidade de planejar o futuro a partir de possibilidades e uma perspectiva positiva. Viver intensamente o dia a dia é muito importante, desde que você e o seu parceiro ou parceira saibam em que direção estão seguindo. Essa perspectiva de futuro propiciará a base das decisões e ações que empreenderão no relacionamento. O teto de uma casa representa a cobertura responsável por preservar as demais estruturas e que têm também sua função na arquitetura e construção. Essa analogia corresponde aos três valores básicos – Confiança, Respeito e Sinceridade Construtiva – que costumam ser edificados e preservados entre os casais que constroem um convívio saudável.
Cobertura de Valor 1 = Confiança – a origem desta palavra está em “fides” que, no latim, significa “fé, fidelidade e lealdade”. Desde o início, no entanto, a confiança é vista como algo cultivado pelas pessoas através daquilo que fazem juntas. Assim, quando se diz que UM confia no OUTRO é porque UM acredita que aquilo que o OUTRO diz ou faz corresponde aos fatos, ou é o que este último planeja fazer. A confiança não é automática nem acontece por acaso. É fruto de trabalho dedicado a atividades específicas entre as partes e que promove um valor especial à relação.
Cobertura de Valor 2 = Respeito – tem sua origem no latim “respectare” e significa olhar muitas vezes para trás. Olhar para trás para ver o outro, para perceber quem está perto de nós. Está associado aos direitos fundamentais do homem e do cidadão, aos vínculos morais e jurídicos, que regulam o nosso comportamento. São valores comuns, cultivados e ligados à dignidade e à ética.
Cobertura de Valor 3 = Sinceridade Construtiva – tem sua origem no latim “sincera”, porque quando os romanos fabricavam vasos de uma cera especial essa cera era, às vezes, tão pura e perfeita que os vasos se tornavam transparentes. Para o vaso, assim fino e límpido, dizia o romano vaidoso: – Como é lindo… parece até que não tem cera! “Sine-cera” queria dizer “sem cera”, uma qualidade de vaso perfeito, finíssimo, delicado, que deixava ver através de suas paredes. Sinceridade é a qualidade de ser franco, leal, verdadeiro, transparente e que não usa disfarces, malícia ou dissimulações. Ser sincero, à semelhança do vaso, deixa ver, através de suas palavras, os nobres sentimentos de seu coração.
Porta que leva ao interior = Individualidade – a psicóloga Margareth Mello, em “As Fronteiras do Amor”, afirma que: “Antes de mais nada, para estabelecer uma relação a dois saudável e viável, precisamos aprender a nos diferenciar como pessoas.” Ela ensina que “Numa relação a dois, imaginar dois corações fundindo-se num só parece imagem muito bonita e romântica. Mas contém a armadilha da falta de limites entre os parceiros, que impede o respeito à individualidade e a saúde do próprio relacionamento. Fronteira é o “limite”. A perda da fronteira significa a perda da diferenciação, isto é, da própria identidade de cada um dos parceiros. Fronteira é limite, é amor. Amor é algo cuidadoso, exercido com ternura. É dessa forma que a fronteira de uma casa indica quem pode entrar. Não é qualquer um que tem trânsito naquele espaço, estabelecem-se regras de como se comportar uns com os outros, uma legislação interna rege aquela família, para o bem estar de todos os que compartilham da mesma constelação familiar. Um casal com fronteiras seguras, que suporte os eventos inesperados e as dificuldades temporárias sem acusações, sem retaliações e sem mágoas acumuladas, pode encontrar saídas sempre mais criativas e adequadas às suas necessidades”.
Agora, o que você pode fazer para melhorar ainda mais essa área de sua vida?
Qual seu objetivo?
Que recursos você já dispõe e que podem ser preservados para alcançar o que quer?
Que recursos você ainda não tem e que pode desenvolver para conseguir o que quer?
Qual o primeiro passo a dar na direção dos seus próximos capítulos?
Lembre-se, essa é a sua história e você escolhe o que quer viver!